A coerência se faz na luta!

Prof. Ridson durante o ato dos professores da rede estadual no ato do 7 de setembro

Desabafo de um professor sobre a conjuntura da greve/ convocação à luta- zonal Maracanaú

Caros, estamos diante de um momento muito crítico do movimento de greve dos professores do Estado do Ceará em defesa da valorização da educação.

De um lado, temos um número expressivo de movimentos em todo o estado, cada vez mais criativos e cada vez mais conseguindo apoio do povo, que entende que recuar agora na luta é um erro que pode ter proporções inimagináveis.

Mas de outro, as pressões governistas, repercutindo nas regionais do interior e da capital, aliadas à desinformação/ alienação por parte de nossa classe trabalhadora, vem criando um desserviço à luta pela dignidade, com professores voltando às suas escolas de cabeças fechadas,bocas mudas, silenciando os avanços que essa greve teve até então (mobilização nunca antes vista- a maior greve da educação da história de nosso estado; diálogo com os alunos e com a comunidade, e estes indo às ruas também para protestar e lutar pelo que é seu) e pode ter ainda (assinatura do Termo de Ajuste de Conduta com as garantias de propostas justas e que atendam às reinvindicações dos professores e alunos). E o que é pior: professores/ educadores (?) que estão gestores aproveitando a divisão da categoria para manipular a situação e conseguir a volta da maioria de alunos/ professores.

Ouvi de uma gestora que o único prejudicado nesta greve são os alunos. Que o “enem está aí” e que os alunos do 3º ano estarão mortalmente prejudicados rumo aos seus objetivos. Fiquei calado pela educação, pois sou um educador e acredito que deva passar bons exemplos: mas não silenciado, pois depois contrapus a esse infeliz comentário com meus argumentos…que ela não quis ouvir e saiu. Pena que não tenha ouvido os mesmos alunos do 3 ano mostrarem que aprenderam a maior lição: educação de qualidade se faz a longo prazo- passar no ENEM é consequência de uma vida de estudos.

E refleti sobre nosso momento. Que avança “impávido, retumbante, vendo que o filho teu não foge à luta” como no ato em estive no dia da independência em nossa capital cearense.

Se afinal, como professor de História, trabalho diariamente com meus alunos que as lutas sociais vem desde os tempos mais antigos, quando trabalhadores eram explorados e classes sociais/econômicas em disputa brigavam na dualidade exploração-resistência, aumentando a contradição do ser humano em coletivo. Se digo que os franceses pós-revolução aprenderam que ir às lutas sociais, ir às ruas, protestar e argumentar fazem parte da sobrevivência humana tanto quanto comer, beber e dormir (e que isso deve ser exemplo, e não exceção). Se faço tudo isso no dia a dia com meus estudantes, é porque acredito nisso. E crendo nisso eu não posso dar as costas para a minha categoria, para os pais de alunos e principalmente, para aqueles que em maior ou menor grau me tomam como exemplo.

Eu não posso ter uma postura de conformismo se ainda há muito pelo que lutar. Não posso ignorar que outros companheiros estão fazendo tanto quanto ou mais do que eu pela luta. Não posso ficar calado se tem alunos que mostram a cara e mostram que estão realmente convictos na justiça da luta pela educação pública e de qualidade.

A gestora me acusou de contradição, de descompromisso com a escola, com a educação, de falta de coerência. Acho que não. Acho que me faltaria coerência e compromisso com a educação, entraria em contradição se simplesmente desse de ombros e ignorasse tudo aquilo que prego e repito nas minhas aulas, no meu dia a dia. E disso não posso ser acusado.

Prof. Ridson de Araújo- zonal Maracanaú

Ps: não considero minha gestora uma pessoa má, ou até mesmo má administradora. Porém, nossas divergências políticas criaram esse impasse, e é preciso denunciar essas ações de manipulação por parte do governo. Não levo (ou busco não levar) para o lado pessoal,  e sim por concepções de mundo e de luta. Somos todos professores.

2 Comentários

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2 Respostas para “A coerência se faz na luta!

  1. Prof. Iarley Brito

    Caro colega de luta,

    Infelizmente algumas pessoas não acordaram do “sono dogmático” e é próprio delas alimentar um desejo pelo imediatismo! Na verdade o que foi perdido ao longo da história foi o verdadeiro sentido de política, que não se restringe a formação de partidos nem à defesa de ideologia alguma, mas simplesmente se alarga para o entendimento de que a ação política é aquela voltada sempre, e digo sempre, para a efetivação da liberdade!.

    Vamos nessa luta até o fim, sem medo de perder emprego, de perder o respeito, ou qualquer ficção que possam criar!

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