Uma lição valiosa
Pediram-me para eu dar meu ponto de vista sobre a greve dos professores no estado do Ceará. Não preciso de muita retórica para me expressar: eu os apoio. E não pensem que estou sozinha nesse sentido. Vários dos meus colegas de classe também apóiam os educadores nessa batalha.
Mas vocês podem me perguntar o porquê de eu estar do lado deles se, enquanto estudante do 3º ano do ensino médio, com o ENEM batendo em minha porta, sou a principal prejudicada com a paralisação. E eu os respondo que apóio os professores por estar plenamente consciente de que a causa é mais que do justa. Eles estão reclamando não mais que o direito deles. O piso é lei, um salário digno é lei, uma educação de qualidade é lei e mais – é direito humano. E a partir do momento em que uma pessoa nega, zomba, debocha, desvaloriza e desestimula o aperfeiçoamento dos professores, ela está desrespeitando o direito dos alunos de escola pública de ter mestres qualificados, motivados e com tempo e recursos suficientes para preparar uma boa aula. É isso que o nosso governador está fazendo – passando por cima da Constituição Federal, da Declaração Universal dos Direitos humanos e do próprio bom senso de um governante que, teoricamente, almeja o desenvolvimento daquilo que governa.
Mas ainda não satisfeitos, vocês podem me questionar novamente por que apóio os professores se eles podem me fazer perder uma vaga na universidade. Responderei que o principal e maior responsável pela minha possível perca não são os docentes, mas um indecente chamado Cid Gomes. É ele e suas atitudes autoritárias e ditatoriais que atravancam nossas aulas, que zomba da educação, que acha que amor paga contas e que o ensino privado é o único que pode ter professores bem remunerados.
Eu e milhares de estudantes perdemos aulas, sim. Não aprendi o que são polímeros, lei dos cossenos ou efeito Joule; não aprendi o que é existencialismo nem sei classificar orações subordinadas substantivas. Mas eu aprendi uma lição que talvez seja até mais importante que tudo isso. Aprendi que a ditadura militar acabou há décadas e que nenhuma autoridade tem o direito de tirar nossos direitos. Nessa greve, meus professores me ensinaram algo muito mais valioso: que ser cidadão é bem mais que votar – é, principalmente, lutar pelos nossos direitos.
Alessandra Estevam